quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Além das fronteiras do Fórum Social Mundial



Matéria e fotos por Marcela Mattos - e-mail: marcelamattos@gmail.com

A idéia era gravar um CD com bases e chamar alguns vocalistas pra cantar em cima. Nada muito pretensioso! Nesse contexto aparece Simba Amlak. De passagem por Belém, por conta do Fórum Social Mundial 2009, Simba fez contato com o pessoal do Studio 3, a fim de gravar alguma coisa durante sua estadia na cidade.


A idéia despretensiosa cresceu! O encontro entre vários vocalistas aconteceu naturalmente, e o projeto de produzirem algum material juntos foi conseqüência de todo o contexto que se respira durante o período do Fórum.


Sem entrar no mérito do Fórum em si enquanto espaço político deliberativo, a Mixtape que essa galera produziu é um exemplo singelo de experiências que podem surgir a partir de um evento como o Fórum Social Mundial.


A cultura hip hop sempre teve força nas gravações de Mixtapes. Ultimamente, com as novas tecnologias facilitando o acesso a produção e mixagem de sons, elas têm sido ainda mais freqüentes, inclusive dentro de outros estilos musicais. Basta uma olhada rápida na Wikipédia, por exemplo, pra conhecer um pouco mais sobre o tema.


Para a Mixtape produzida durante o período do FSM, em Belém, foi decidido como tema central o “paraíso”. A idéia era que os cantores envolvidos escrevessem uma letra falando da sua visão do que seria o paraíso.


No total, foram seis vocalistas envolvidos no projeto: Simba Amlak, da Guiana (Inglesa), Bruno B.O., de Belém, Rick D., conexão São Carlos-Belém, Camafeu Tava e Macone Tafari, de Salvador, e o pequeno Lucas Kinte, de apenas 8 anos de idade, também de Salvador. Além deles, participaram também Tadeu Kahwage, Patrick de Figueiredo Biá Viana e Rafael Santos, que ficaram responsáveis pela mixagem e produção do som.


“Unir os irmãos pra realizar um trabalho coletivo”, esse é o objetivo do projeto nas palavras de Simba. O ambiente que possibilitou essa experiência foi um pequeno estúdio de ensaio e gravação no centro de Belém – o Studio 3 –, onde também funciona a loja de roupas Jah People, que serve de ponto de encontro para os amantes do reggae.


Para Patrick, proprietário do Studio 3 ao lado de Rafael, o mais importante no projeto é o intercâmbio cultural, que vai além das fronteiras do Fórum Social Mundial. “A importância do FSM está no que cada um leva pra si de tudo o que participou, sejam debates, palestras ou contato com as pessoas. Pois os governos não vão dar nenhuma resposta imediata mesmo”, declara ele, explicando que as reais respostas são as experiências que surgem dessas trocas culturais entre gente de lugares tão diversos.


Essa não é a primeira Mixtape de que Simba participa. Em 2008, junto com Sista

Marisa, Sista Dan, Lei di Dai, Jeru Banto, Victor Bhing I e Dacal, ele gravou a Mixtape volume I, que seguia mais ou menos os mesmos preceitos desse segundo projeto. Para conhecer as duas músicas, basta acessar o Ragga Productions


A trajetória de Simba na música reggae é não só extensa como bastante rica. Nascido na Guiana, Simba teve nos tios os primeiros “professores” de música. Mas ele conta que toda a família e a comunidade, inseridos na cultura rastafari, sempre tiveram a música muito presente nas reuniões. No entanto, inicialmente Simba só tocava instrumentos orgânicos, como tambores e flautas. Foi só aqui no Brasil, onde já está vivendo há 9 anos, que o músico passou a se dedicar a instrumentos elétricos.


Sua vinda ao Brasil se deu devido ao Congo Naia, uma fundação cultural da Guiana que reunia música, cultura, oficinas, danças, confecção de instrumentos, cultura afro, artesanato, etc. O grupo, formado por 12 pessoas, percorreu o país de Manaus a Porto Alegre fazendo inúmeras apresentações.


Hoje Simba continua na vida de viajante, mas em vez do grupo, quem o acompanha é a namorada Ricarda, que também chegou a integrar o Congo Naia durante a turnê. O casal já completou 9 anos de múltiplas viagens e projetos musicais. Depois de Belém, sua próxima parada seria em Santarém, de onde seguiriam para o Suriname e depois para Guiana.


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